sexta-feira, 22 de agosto de 2008

THE BIRTH OF A LEGEND

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THE BIRTH OF A LEGEND

(o nascimento de uma lêndea)


Na altura do ano/tempo histórico universal eu andava na recruta. Andava por lá. Em Lamego. Em Penude, para ser preciso. Neste dia específico – que não sei qual foi (um qualquer de 87) – estávamos a aturar mais uma aula pepineira de proveitosos conhecimentos de práticas militares e seus satélites, num daqueles barracos por lá esquecidos para o efeito. O vacuum cleaner (vulgo aspirante) deliciou-se a fazer uma retrospectiva da matéria dada, a ver se estávamos aptos para o circuito de avaliação que se avizinhava. A dada altura o tal dito cujo vira-se para a assembleia e pergunta: «Quais os meios de orientação de que nos podemos valer à noite?». A muito custo os coleguinhas começaram a vomitar aquelas crendices medievais da orientação pelas estrelas, das capelas voltadas a nascente do musgo nas árvores a denunciar o Norte, e, no meio de tão letrados conceitos sai-se o camarada Racha-cabeças com um exemplo anunciado numa expressão fantástica que nunca esquecerei. Foi como que uma revelação. Deixou todos de boca escancarada de profunda admiração por esta transmissão eloquente de dados adquiridos. Atrevo-me mesmo a dizer que em duas palavras ele resumiu tudo o que tínhamos aprendido até então. Uma autentica súmula do conhecimento humano. Uma expressão a explodir de interioridade para a Eternidade. As primeiras pisadas na lua ao pé deste feito são como comparar peixe vermelho numa marmita com a mortadela do reforço: uma discrepância abismal. Tanto e tão pouco. Do âmago da sua sobre letrada alma cultural, querendo mostrar que sabia e que sobretudo sabia mais que os demais, enunciou o mais importante dos meios de orientação: «Os caracóis nocturnos!».








Destes nunca me esquecerei, e serão para todo o sempre uma ameaça à minha integridade emocional, porque sei que um dia partirei, deixando de herança à Humanidade este Blog imenso, e sei que, mesmo depois de enterrado, vou ser visitado pelos famosos caracóis nocturnos que me virão fazer cócegas nos pés.

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