sexta-feira, 22 de agosto de 2008

ATRIBULAÇÕES DE UM CAROCHA

*
*
*


ATRIBULAÇÕES DE UM CAROCHA


Corria o ano de 1988 (se calhar esta história já corria desde antanho, ou até mesmo de antes). Havia na Humidade um Fox Wagner carocha preto, matrícula MX-coisa-e-tal, que estava destinado a ser a viatura oficial do Segundo Mandante. Em bom português: sobrou para ele. Acontece que esta viatura era muito problemática porque tinha um furo noutra viatura que fazia com que os seus consumos fossem absolutamente inexplicáveis. Tirando as carroças do Parkauto, só as viaturas do comando é que bebiam gasosa. O resto era tudo a gasóil. Havia afixado na Sectrans um mapa hostil com a quilometragem, os consumos e os trabalhos de manutenção das carroças. Ora, na linha do Fox Wagner havia um espaço que saltava à vista, com a sua espectacular média de consumo, a desafiar qualquer inteligência matemática e que só tinha como rival a Magirus Deutz, mas isso é outra história. O Boguinhas era curto de viagens. Ora viajava do poiso para a Régua, ora do poiso para a oficina e da oficina para o poiso e o alinhamento repetia-se indefinidamente, infinitamente e inexplicavelmente. Andavam os peritos na matéria todos muito indignados porque se atestava o depósito e quando chegava de novo a casa, já vinha abaixo da reserva, e toca a andar para a oficina, para testes e mais testes. E onde raios estava o furo? E olha daqui e olha dali, e agora olho eu, e agora olhas tu, e nada. Mais tarde vim a saber que o furo por onde o néctar se escapava estava na chapa da carroçaria do carro do Gasolinas, o soldado que ia e vinha ao fim-de-semana “à pala” da Exma. Humidade. Ele abastecia o carocha com o suficiente para 25 quilómetros e o resto esvaia-se pelo tal furo. De uma das vezes, o carroço ficou pelo caminho e ninguém desconfiou de nada. Ao que parece, o engenho do soldado raso era bem maior que a arte dos responsáveis pelo talher mecânico.

*

*

*

Nenhum comentário: