sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

ORDEM CORNOLÓGICA

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ORDEM CORNOLÓGICA



Hoje há farta de inspiração. Não era para escrever isto mas há vozes reclamantes que dizem que o belogue está abandonado aos cães e que eu não quero saber mais disto. Não é verdade. Eu quero saber mais disto (seja lá o que isso for). Acontece que a vida dá muitas voltas e uma pessoa é apanhada desprevenida e depois não há tempo para nada e só aparece trabalho pela frente e as cervejas ficam a aquecer no bar, e foi mais ou menos o que aconteceu a um pobre Furra caído em desgraça numa qualquer secretaria do CIRE. Corria o tal ano de que muito se fala, e os bicharocos foram enviados para Sta+ para aprenderem o que é o funcionalismo público em todo o seu esplendor. Chamavam a esta fase o Tiro Cínico. O Furra Lata-vazia era um mocinho porreiro e foi logo cair num ninho de víboras onde obrava o Sargento Sinagoga que era bem pior que o raio que o parta. O homem era refinadamente mau e fazia por isso. Não sei quem eram os seus adjuntos, mas o certo é que ao verem ali um pobre eclesiástico inocente, logo trataram de lhe dar que fazer. Mostraram-lhe um armário cheio de Ordens de Serviço caducadas e mandaram-no pô-las a todas por ordem cornológica. Enquanto os micóticos laboravam no frenesi das idas e voltas do bar, o pobre moço fazia o que podia para agradar e para contribuir para com a defesa deste tão nobre país que todos ajudamos a não sei o quê. O certo é que alguns dias depois a vil tarefa estava pronta, e pediram-lhe que constituísse com a papelada uns fardos ergonométricos cintados a corda de sisal e vai daí que tratasse de pôr tudo ao lixo porque não eram necessárias há muito tempo e só estavam ali à espera de uma vítima para as conduzir à sua última morada. O Furra quase que teve um ataque de coiso só de pensar na trabalheira que teve para agora adubar uma qualquer fogueira (sim porque nesse tempo não se reciclava).


Não é que esta história seja interessante, ou que esteja aqui algo escondido entre linhas ou em palavras pares, mas achei que devia aqui figurar como exemplo catedrático daquilo que muito se faz por este país fora (dentro) para justificar postos de trabalho e postos de hierarquia. Trata-se apenas de uma lição de vida e de um testemunho hostil nesta campanha urdida para arrasar a já fraca moral cívica da tão chamada Função Pública (contra a qual não tenho nada e à qual aproveito mais uma vez para agradecer aquelas vinte e quatro patacas no final de cada mês, que em muito contribuíram para a minha actual colecção de cd’s. A todos um grande bem-haja e coisa e tal, mas serviços ao fim-de-semana é que não).




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