quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O Capataz

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O Capataz


«Meus senhores, vocês já sabem que quando o mar bate na rocha…» - assim costumava falar o Capataz às tropas na formatura da Companhia de Comendo no Serviço. «Quem se …» - e todos os dias ouvíamos a mesma treta, sempre a realçar a sua posição de comando em relação à subjugação inevitável dos soldados em geral - «É o mexilhão!» - e era! E estávamos nós ali no Degredo, com aqueles verdinhos todos mal alinhados naquele piso irregular que mais parecia uma projecção topográfica dos montes Cárpatos, todos os dias a ouvir falar em mexilhões, certos de que alguns dos presentes nem sequer sabiam o que isso era e muito menos ao que isso sabia, ou até mesmo o significado de tão pomposa frase. O certo é que o Capataz usava e abusava da frase e eu, como sempre fui a favor da criatividade e contra a monotonia, resolvi dar um jeito no assunto. Num belo dia cuja data pouco importa para o assunto, aproveitando uma saída do Capataz para um qualquer lugar no cumprimento de suas elevadas funções (talvez tirar fotocópias), entrei no seu gabinete e enchi a primeira gaveta da secretária com uma grande quantidade de cascas de mexilhão.

Não assisti à abertura da gaveta mas diz quem viu (e ouviu) que o Capataz ficou danado e que disse logo que aquilo era obra do Furriel Cyptus. Não sei como é que ele chegou tão rapidamente a essa conclusão (o seu cérebro não estava capacitado para tão brilhante raciocínio).


Numa outra ocasião, por força do mau ambiente que o Capataz criava nas áreas que eu frequentava, decidi fazer uma pequena alteração estética no seu gabinete. Tinha ele em cima da secretária um pequeno escaparate com o seu nome, precedido do seu nobre posto (esquecido no tempo): “Capitão…”(coiso). Com um golpe de mestria e valendo-me de adereços de bricolage apropriados, alterei o “Capitão” para “Capataz”. Diz quem viu (e ouviu) que o senhor Capitão/Capataz (riscar o que não interessa – ou riscar tudo) não achou piada nenhuma ao sucedido e que mais uma vez afirmou promontóriamente* que aquilo era obra do Furriel Cyptus. Não sei como é que ele chegou a essa conclusão tão acertada. O seu cérebro não estava…(como sempre).



*Promontóriamente é um vocábulo novo criado especificamente para esta narrativa a partir da palavra “Promontório”, que significa Cabo Elevado (que pode muito bem ser um Capitão).



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Um comentário:

Anônimo disse...

isto anda muito lento!!