segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Elvis no Matagal dos Remédios

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Elvis no Matagal dos Remédios



Confesso que em 88 eu já andava um bocado suturado com aquela vida de mElitar. Além disso era preciso inovar todos os dias e manter o nível, e a criatividade ameaçava falhar a qualquer momento. Mas ainda não foi desta que passamos à estagnação. Estava eu parasitariamente muito sossegadinho no meu cantinho da Messargen quando apareceu o meu companheiro de quarto, o Furriel Joca, com ideias de ir dar uma volta para espairecer. Eram praí nove da noite e não havia nada para fazer. Como sabíamos que a Companhia de Obstrução estava a ter Instrução Soturna sugeri que fossemos dar uma volta pelo Matagal dos Remédios para apreciar a coisa. Arrancamos dali com a nossa farda de caçador e, não sei o que é que me passou pela cabeça nesse momento, mas achei por bem levar um rádio portátil – coisas da vida que ninguém sabe explicar. Chegados ao Matagal constatamos que aquilo era um verdadeiro filme da guerra do Vietname, só com uma diferença: era de noite e não estávamos a ver as coisas com um daqueles malditos filtros azuis que os americanos põem nas câmaras sempre que filmam de dia para enganar as pessoas e parecer que é de noite. Estava muito escuro. Donde a onde havia uma pequena clareira de luz. Havia seis pelotões de recos dispersos pela encosta do monte acima, em progressões nocturnas mais ou menos abandalhadas (quatro olhos por pelotão não chegam para fazer a devida vigilância), ouvindo-se vindo não se sabe de onde os sons peculiares de recos a “encher”, uns a rir, outros a berrar, misturas de sussurros e galhos a estalar, e nós os dois ali no meio daquela guerra a fazer de conta que éramos observadores da ONU, prontos a tirar conclusões e elações. Aproximamo-nos de uma das progressões e, para espanto de todos, tchan tchan tchan! – rádio no máximo – Elvis is rocking! – e dois Furras a dançar rock’n’roll espalhafatosamente, no meio de nada. Tão depressa aparecíamos como desaparecíamos e mudávamos de lugar, e passávamos a incomodar outra progressão. E assim passamos uma noite divertida, a escancarar de espanto as bocas dos recos que nunca pensaram ver tal coisa no seu humilde, pacato e singelo Vietname particular.



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